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Brasil dos jogos: Asteristic Game Studio

O mercado de jogos eletrônicos nacionais explodiu nos últimos anos, com novos títulos chegando às prateleiras digitais em ritmo acelerado. Essa série busca traçar um perfil de alguns destes desenvolvedores brasileiros que lutam por um espaço nesse mercado em ascensão.

Asteristic Game Studio foi formado pelo desenvolvedor carioca André Chagas e lançou seu primeiro jogo em 2015: Dreaming Sarah é um charmoso título de plataforma com exploração onde o jogador entra no papel da protagonista que dá nome ao jogo para tentar despertá-la de um coma. O título tem um ritmo que os diferencia dos demais, ou, como a própria descrição sugere, “não se apresse. Faça no seu tempo, olhe ao redor, perceba tudo”.

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Dreaming Sarah usa e abuso de gráficos retrô para compor uma atmosfera onírica.

Com uma aceitação positiva da comunidade, o desenvolvedor prepara novas jornadas e aceitou conversar com a gente sobre Dreaming Sarah e seus próximos projetos.

1) Como surgiu a ideia de criar um jogo eletrônico?

Eu crio jogos desde os 13 anos. Quando eu era pequeno eu ganhei dos meus pais um programa chamado “Klik ‘n Play” e passava horas brincando de fazer jogos nele. Vinha até um VHS explicando como o programa funcionava em português de Portugal… desde então sempre usei ferramentas do tipo (como o The Games Factory, Click ‘n Create e Multimedia Fusion).

2) Como começou sua relação com os jogos eletrônicos? Quais são suas influências?

Meu pai tinha um Atari 2600 quando eu era pequeno, e meu tio um CCE. Passava horas jogando Adventure, um jogo dos Smurfs que eu achava impossível pular uma cerca, Frostbite e outros.

3) Dreaming Sarah foi desenvolvido por você, mais um compositor na França e uma artista nos Estados Unidos. Como você conseguiu chegar a um time tão global assim?

Na verdade o Dreaming Sarah veio depois da composição das músicas. Eu achei o compositor por sorte na internet, e enquanto trabalhava no Dreaming Sarah fui escutando as músicas dele. Tentei entrar em contato com ele pra ver se poderia usar as músicas, mas só consegui um ano depois, quando grande parte do jogo estava pronto.

A artista era freelancer e trabalhou somente numa parte do jogo (a mansão). Usamos Skype pra conversar mas foi só durante um mês.

4) A distância geográfica atrapalhou o processo de desenvolvimento ou a Asteristic Studios chegou a ter um espaço físico comum?

Nem um pouco, mas como disse antes as músicas já estavam prontas e a artista trabalhou somente em uma parte do jogo. Grande parte do jogo eu trabalhei sozinho, então não houve distância.

5) Dreaming Sarah é um jogo de plataforma com um ritmo diferente do tradicional, sem inimigos e mais focado na exploração. O que levou a essa escolha?

Sempre gostei de jogos de exploração e em 2010 me apaixonei por um jogo chamado Yume Nikki. Tentei fazer algo no mesmo estilo. Sempre gostei de jogos com muita exploração, como os jogos antigos da Rare.

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Cena do surreal Yume Nikki, uma das inspirações para Dreaming Sarah.

6) Quais ferramentas foram empregadas no desenvolvimento de Dreaming Sarah?

Construct 2 para a programação, GraphicsGale para a pixel art.

7) Há planos de adaptar o jogo para outras plataformas? Ou dispositivos móveis?

Há alguns planos em andamento, mas nada concreto ainda.

8) Como foi o processo de financiamento do Dreaming Sarah? Houve uma busca por financiamento coletivo?

Inicialmente tentamos o Catarse, mas tive que cancelar ele por diversos fatores. Olhando pra trás, tenho certeza que teria me arrependido se tivesse continuado com ele. O dinheiro que pedimos lá está bem longe do que é necessário pra fazer um jogo.

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Dreaming Sarah não traz inimigos, mas NPCs podem fornecer pistas sobre o passado da personagem.

9) No próximo mês, completam dois anos do lançamento de Dreaming Sarah. Há espaço para uma continuação? O Asteristic Studios tem outro jogo em desenvolvimento?

Sim! Uma continuação do Dreaming Sarah está planejada, mas ainda não entrou em produção. Atualmente temos dois jogos em andamento, um na fase inicial e um próximo da conclusão, mas ambos completamente diferentes do Dreaming Sarah.

10) Dreaming Sarah foi bem recebido no mercado lá fora?

Sim! Não imaginei que seria tão bem recebido. A maioria das pessoas que joga acaba gostando e os fãs tem várias teorias sobre coisas que acontecem no jogo, isso foi o que me deixou mais feliz.

11) Ainda há muita resistência do público brasileiro contra jogos nacionais ou isso vem mudando nos últimos anos?

Acho que vem mudando muito nos últimos anos. Fiquei impressionado com as vendas do último bundle brasileiro em que o Dreaming Sarah esteve. Na minha opinião a maior resistência do público brasileiro não é com jogos nacionais e sim com pagar pelos jogos. Nossa cultura com relação a software sempre foi de “porque pagar o que posso ter de graça?” mas o problema real são os preços e o Steam é a prova disso. Além da maioria dos jogos terem um preço diferenciado pro Brasil lá, na época de promoções todos conseguem pegar jogos bons por um preço que acham justo.

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Será que a protagonista conseguirá despertar de seu estado?

12) Recentemente, a Valve anunciou mudanças no processo de entrada de novos jogos no Steam. Como isso poderá afetar seus planos futuros?

Acho muito cedo ainda pra ter uma opinião formada sobre o Steam Direct, mas gosto da idéia de não precisar esperar votações para que seu jogo entre. O preço varia muito dependendo de vários fatores então tenho esperança de que o desenvolvedor indie continue pagando barato para ter seu jogo lá.

13) Há um intercâmbio entre vocês e outros desenvolvedores nacionais?

Graças ao Twitter, há sim! Mas falamos bem pouco de gamedev em si, hahaha.

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Mas também há espaço para sequências perturbadoras no jogo…

14) Como você vê o cenário dos jogos nacionais nos próximos dez anos?

Acho que o mercado de desenvolvedores de jogos no Brasil se foca muito no lucro. Muita gente acaba vendo desenvolvimento de jogos como “algo que dá dinheiro’ e investe em cursos e faculdades, mas acaba fazendo advergames e coisas do tipo. No futuro gostaria de ver mais devs brasileiros fazendo os jogos que eles quiserem, e não projetos de empresas maiores.

15) Nas horas vagas, quais são os seus jogos preferidos?

Tenho jogado bastante Skate 3 e Shantae 1/2 Genie Hero no Xbox One, e Shenmue no Dreamcast. Além disso gosto de qualquer jogo da Sega e passo horas jogando MegaDrive quando posso.